sábado, 29 de novembro de 2008

Cena de um filme esquecido...


- Ele está perdido? Com licença, olá?
- Posso oferecer uma carona até a sua casa?
- Por que? Sabe onde moro?
- Acho que sim
- Ótimo, porque é só você que sabe...
-De que parte da Inglaterra você é?
-Surrey
-Cary Grant era de Surrey
-Isso mesmo, ele era de lá!
-Como sabe disso?
-Ele me disse...
-Dava um bom encontro fabricado...
-Como?
-É como dois personagens se conhecem num filme - um homem e uma mulher, os dois precisam de algo para dormir e vão ao mesmo departamento de pijama masculino. O homem diz ao vendedor: "Só preciso da parte de baixo". A mulher diz: "Só preciso da parte de cima". Eles olham um para o o utro. Isso é um encontro fabricado.
-Entendi.
-É claro que com a gente não foi fabricado, mas...
-Você trabalha com cinema?
-Trabalhava. Eu era roteirista...

Essa é a melhor parte desse filme, que não lembro mais o nome... alguém lembra???
Ele é um ator de uns 70 anos, mas não conhecido - quer dizer, não por mim. Ela é, uma dessas atrizes galegas, famosa por alguma comédia romântica... A cena é em Los Angeles. As ruas lembram a parte residencial de Hollywood...

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

FREEDOM FREIHEIT LIBERDADE LIBERTAD LIBERTÀ LIBERTÉ

Tim Robbins em Sonho de Liberdade

- The best thing in life?

- Autonomia. A liberdade de ir e vir, intelectual ou física. That's the best thing!

- Apenas isso? Simples assim?

- Não, não é simples. Foi num filme horrível, que vi dia desses, de um diretor muito promissor no início dos anos 90, mas que degringolou completamente depois, ao render-se à Hollywood.

- Todo diretor hollywoodiano não vale nada? É isso que está dizendo?

- Não, não é isso. Estou falando especificamente desse cara, que é americano, por sinal... Mas ao se deparar com toda a parafernália hi-tech, despencou ladeira abaixo... Infelizmente... O primeiro filme dele é simples, direto, eficiente, criativo, refreshing, you know... Bah, mas depois foi só decepção... Ele tinha algo do Alex Cox nos anos 80, entende?

- Não...

- Bem, voltando ao filme, o único momento interessante estava no final! Imagine, tive que assistir toda a película para encontrar algo legal. O que fez me lembrar de um professor da universidade que dizia: "É preciso assistir tudo que é filme. Porque naquele que detestas, encontrarás algo que valha a pena". Em parte ele tinha razão... Tinha alunos que assistiam filmes do Arnold Schwarzenegger escondido do resto da turma. Era engraçado.

O tal diálogo do filme era o seguinte:

Carolina
: What do you want in life?
El Mariachi: To be free...
Carolina: Simple.
El Mariachi: No.

- Só isso?

- Sim, porque quarta-feira irei assistir dois amigos tocando juntos. Foi um dos shows que mais quis ver em 2006, mas não tinha automia para isso. Você não tem idéia de como é devastador constatar tal impotência. Não importa o lugar, o que importa é andar com as próprias pernas, essa é a melhor coisa da vida! SIM, isso é o que importa! Entende?

- Não...

domingo, 16 de novembro de 2008

Califórnia, México e Calexico





















O que existe de comum entre o alto sertão paraibano e o deserto do Arizona? O calor insuportável, o sol a pino quase o ano inteiro, a inexistência de água.


Ao contrário da politicagem dos açudes, usada por candidatos a cada eleição em nosso território, as terras do Estado do Arizona nem para fim eleitoreiro são lembradas.

Não há oásis em Tucson. A única forma que John Convertino e Joey Burns encontraram de aliviar o deserto foi formar uma banda. O encontro deles nem foi no Arizona; aconteceu em Los Angeles (Califórnia) por volta de 1996.

Calexico, CA : All American Canal looking east from Calexico. Picture by Joe Bellavia, 2005.

Calexico, CA : Cars go into Mexicali on lane which runs behind yellow sign at the right. Cars on the left are returning from Mexico. Foot traffic passes thru a small building about 100 yards off the picture, to the left. I tried to photograph it but the border patrol made me delete it. Picture by Howard Barnes, 2005.

Claro que eles não fazem tudo. A cada álbum vários amigos são convidados para contribuir com sonoridades diversas. Toda ajuda é bem-vinda, especialmente quando o terreno é árido e ainda mais difícil quando se sai da rota mais percorrida.
A música do Calexico é basicamente composta das influências fronteiriças. A começar pelo nome escolhido: Calexico é uma cidade que fica na fronteira do Arizona com a Califórnia e tem o caminho do El Diablo ao noroeste, conhecido por sua paisagem fantasmagórica. A temperatura da matadora trilha do El Diablo chega a 120ºF, o equivalente a quase 49º C. Não existe amenidade, até hoje é preciso ter um bom preparo para fazer todo o caminho. Assim sendo, a dupla não pode ignorar tamanha influência climática e regional.

Dizem que o Calexico criou um novo estilo no rock, composto de temas instrumentais complexos com sugestões sonoras à música mexicana.

Dizem também que as referências mais óbvias do Calexico remetem as trilhas sonoras do Ennio Morricone, mas não é só isso. Como diz o Joey Burns: "Isso é apenas uma ponta do iceberg".

Calexico não é no México, mas um dia foi. Não foi por ter deixado de ser México que as pessoas que ali moravam esqueceram ou apagaram a cultura do lugar. É uma cidade da baixa Califórnia, mostrada em fotos do encarte do cd "The Black Light" de 1998. Sim, o Calexico já tem mais de dez anos. O primeiro álbum chama-se "Spoke" e foi lançado em 1997.

"No Arizona não é necessário usar drogas. O espírito da psicodelia está no ar, no sol e no céu. Para mim, beber tequila e um bom vinho mexicano é o bastante" constata Joey Burns.

Outra fronteira, um pouco mais longínqua, é a do Canadá. Dessa feita a fronteira é apenas uma referência para a música de um folkrockguy que cruzou os limites sonoros e territoriais: Neil Young, canadense que foi para a Califórnia com a Buffalo Springfield, é uma das influências menos comentada na música calexicana.

Graças a Randall Poster e Jim Dunbar, o Calexico foi parar na trilha sonora de um dos filmes mais badalados do ano pasado no meio musical: "Eu não estou lá" (I'm not there) do Todd Haynes sobre a multifacetada vida do compositor Bob Dylan. Desnecessário dizer que Dylan também entra na lista das influências da dupla.

O Calexico junto com o vocalista do My Morning Jacket, Jim James, deram versões modernas as músicas de Dylan, sem abandonar a essência folk de cada uma. Aliás, diga-se de passagem, que, o Calexico está mais para os irmãos Coen do que para spaghetti western. O filme de Haynes foi onde a dupla arizonesca chegou mais perto do mainstream.

Uma curiosidade: John Convertino e Joey Burns são amigos de Chris Cacavas. Mas quem diablos é Chris Cacavas?! Cacavas foi quem os ensinou a tomarem bons goles de tequila ao sol, há muito tempo atrás...

Confira a música do Calexico:
Myspace - http://www.myspace.com/casadecalexico
Site - http://www.casadecalexico.com

Texto publicado no fanzine Barulhoscópio - Natal (RN).

sábado, 15 de novembro de 2008

Stranglers na beira-mar














Os Stranglers foram à praia tomar água de côco. Não estavam com roupas apropriadas para banho, mas aproveitaram para colocar os pés na areia quente de começo de tarde. Será que depois disso eles ainda vão tocar? Você sabe, os ingleses não estão acostumados com o sol escaldante do Nordeste brasileiro. Aliás, os ingleses nem tem o prazer de ter raios de sol por quase o ano inteiro. Estão tão isolados do mundo que, uma chance como essa, é praticamente imperdível. Água de côco... Uma brisa deliciosa vinda de um mar de águas verdes...


Não lembro ao certo como fui parar na beira-mar com um disco(Lp/vinil) dos Stranglers nas mãos. Lembro que não podia deixá-lo dentro do carro, seria o fim... O disco não tocaria mais... Foi por conta desse episódio que escrevi, por volta de 2004, essa meia dúzia de linhas...

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Phoenix sem rio

- Claro, foi mentira!

- Como você sabe?

- Na verdade, eu não sei. Mas prefiro crer que foi.

- Você prefere uma mentira?

- Não, mas prefiro acreditar que foi uma.

- Uma mentira que me fez rever um universo... Paralelo...

Nos famigerados anos 80 - é interessante como todo mundo lembra e quer ouvir sem parar os sucessos, que ninguém aguentava mais ouvir, nos anos 80! - eu ouvia uma música de uma banda vinda de uma cidade chamada Cork (pronuncia-se Corcaigh) na Irlanda. O tal Lp do Microdisney foi lançado aqui no Brasil, na época.

- Mas quem conhecia Microdisney?

- Poucas pessoas... Hoje a Last FM diz: "quem gosta de Microdisney, gosta de Woodentops", ha!
Bullshit!

- Afinal, que música é?

- "Genius". "Eu sou deus". É assim que começa, o final da música. Eu explico... A música acaba, mas tem uma "espécie de coda". Algo que o Sir. McCartney costuma fazer em suas canções. É assim que me sinto hoje.

- Por que?

- Porque eu ressuscitei uns fragmentos. Das cinzas. As cinzas da informática, do famoso Ctrl+C / Ctrl+V. Não é genial? Genius!

E ao procurar a letra de "Genius", achei isso:
My ex-wife hated Microdisney. "I can't stand the singer's voice" she said, "he sounds like a big, gross, sweaty oaf. Please don't play them when I am home!" Long story short, the marriage didn't work out." by Jeff Whiteaker

- Ah, você deveria ir à Cork! Eu recomendo... É uma bela cidade. E "Genius" é uma bela canção, eu tinha esquecido disso...