terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Os Intrusos por Braulio Tavares

A Sincronicidade, a ciência das coincidências significativas, implica na idéia de um campo semântico inconsciente, que nos empurra (sem que a gente perceba) na direção de informações que vibram em uníssono com o momento mental que estamos vivendo. Pode ser um estado de espírito passageiro, que dura algumas horas ou dias, e pode ser uma sintonia com áreas mais profundas, com o momento histórico que atravessamos.
Caiu-me sob os olhos, numa antologia, um conto que eu já lera mais em português, e cujo título em inglês ("The Interlopers" – "Os Intrusos, ou Os Intrometidos, ou Os Que Interferem") não reconheci. O conto é de "Saki", pseudônimo de H. H. Munro, um mestre britânico da história curta que morreu na I Guerra Mundial. O conto se abre narrando a rixa secular entre duas famílias nos Montes Cárpatos. Por causa uma imprecisão na demarcação da fronteira entre as propriedades, as duas famílias vivem se agredindo e se matando há gerações.
Certa noite tempestuosa, Ulrich Von Gradwitz percorre o bosque à procura de intrusos quando se defronta com seu inimigo histórico, Georg Znaeym. Mal os dois erguem as armas um contra o outro, um raio se abate sobre uma árvore próxima, que cai sobre os dois, machucando-os. Ulrich e Georg sobrevivem, feridos, presos sob os galhos, impossibilitados de se mover. Enquanto a tempestade prossegue, os dois começam por se amaldiçoar mutuamente, cada um deles dizendo que quando for encontrado cuidará para que o outro seja fuzilado. As horas passam. A tempestade cessa. Ulrich consegue tirar do bolso um frasco de vinho, do qual toma alguns goles que o reanimam. Oferece-o a Georg. O outro aceita.
Daí a pouco os dois estão conversando, tirando a limpo suas dúvidas, suas rivalidades, a longa história de ódio entre as duas famílias. E um deles faz a proposta: por que não acabar com tanta violência inútil? E se, quando forem salvos, chamarem suas famílias, explicarem o quanto aquela guerra é insensata? Ulrich e Georg se entusiasmam com essa possibilidade; e começam a gritar para atrair a atenção das pessoas que àquela altura certamente estarão, de um lado e do outro, à procura dos dois. Ouvem um rumor distante, e, à luz da lua, percebem vultos que correm na sua direção, cada vez mais próximos, atraídos pelos gritos. Georg pergunta: "São os meus homens? São os seus?" E Ulrich, com uma risada de desespero: "Não. São lobos".
O que tem isto a ver com Sincronicidade? Tem o fato de que este conto me retornou durante estes dias em que as nações do mundo se debatem em desespero, tentando tapar rombos de trilhões de dólares que elas mesmas fizeram, nas suas concorrências e guerras insensatas. Vivem hoje um desastre que elas mesmas plantaram: a crise ambiental, a falência da produção de alimentos, e estão vendo a aproximação dos Lobos da Barbárie. Tomara que eu esteja errado, e que um dia, cofiando uma longa barba branca, possa murmurar: "Como eu era pessimista em 2008!"

Texto de Braulio Tavares, publicado no Jornal da Paraiba, 30/12/2008. Visite Mundo Fantasmo

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Uma música, um delírio...

Zach na beira-mar em algum lugar do planeta... Inspirado?

Em Elephant Gun - Zach Condon tem umas respirações estranhas, não consigo respirar igual a ele ao cantar :)
Não sei se você reparou nisso... Ele não tem uma respiração "padrão" quando canta :) Mas isso não importa! É apenas uma curiosidade, ele é muito bom :)

Esqueci de dizer que lembra muito, bandas dos anos 80 - tipo Dexy's Midnight Runners (acho que você não gosta), Band of the Holy Joy, The Men They Couldn't Hang, Hothouse Flowers, etc. Beirut é mais low-fi se for comparar com todas essas que citei... Se bem que, a idéia inicial, apenas com o Zach sozinho, era bem low-fi mesmo. Ele gravou o primeiro álbum todo em casa :)

Huuuummm não conheço nada disso hehehe. Sabe porque escutei essa música? Porque tocou naquela minisérie da globo, Capitu, e é o tema do Bentinho e a Capitu. Achei uma droga a série e só assisti aquele capítulo :) mas a música ficou na minha cabeça.

Essa música fala da juventude em geral, é linda, bucólica e estranha ao mesmo tempo.
Eu reparei na respiração dele, apenas a inicial, que ele suspira... tava vendo a letra e é algo bem diferente do que tinha entendido, não é?

Sim, ele inspira no início da música. O lance é quando ele canta: As did I, we drink to die, we drink tonight - acho estranho porque se você for cantar, sentirá que não há necessidade de respirar nesse momento, antes de dizer "we", entende? Cantando normalmente não precisa uma tomada de ar nesse instante, acho estranho, parece até que ele tá querendo complicar, well... Ele repete isso mais na frente quando diz: it's not aorund.

Para mim, a letra, tem a ver com uma batalha - a música tem ritmo de marcha - algo marcial - não no início logo. Elephant gun é um espécie de rifle - nos versos: Far from home, elephant gun/Let's take them down one by one - isso é bem claro, longe de casa, ele abate o inimigo - e também em: take the big king down. O Zach é americano, mas desde os 16 anos caiu na estrada e passou muito tempo viajando pela Europa. Daí essa sonoridade meio spanish, escocesa, irish, british em sua música.

Agora me ocorreu uma imagem meio bizarra, tipo filme do David Lynch - um cara com um rifle de ar, atirando naqueles bonecos, em barracas de circo ou parques de diversões :) e essa música tocando... Independente disso, a sonoridade é bela, muito bem construída, melodia e ritmo. Harmonia fantástica e simples :)

Você já ouviu Calexico? Eles fazem uma linha semelhante, só que são bem anteriores ao Beirut e menos mainstream.

Parou, parou :)

Beijos, vou dormir - assim não escreverei mais :)

Uau, poderia colocar nossa conversa em um blog, daria um belo post...

Vou conhecer Calexico! :)

Bjoss

Posso?

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

The Future is so Bright Dois

Desci do carro. Atravessei a pista. Em direção ao terminal, a sensação de vazio. Se cada pessoa da qual me despedi, durante a existência, levou um pedaço de mim, resta-me muito pouco... Ou talvez não reste mais nada... Nada que valha a pena ser arrancado, nada que não tenha sido vivido, nada que não esteja dilacerado, nada que irá transmutar... My goal is more than a thought/I'll be there/When I teach what I've been taught... Tudo está conectado... Posso desligar ou conectar o que desejo... Será? Nada é tão controlável assim... Eu sei que... Não gaste seu tempo. Não gaste tempo. E mais uma vez lembro de palavras cantadas... Sweet memories/Flashing very quickly by/Reminding me/And giving me a reason why
Esse é o tempo - pés na areia quente e o sol rachando o juízo. Cada caminho, na cabeça, está. Isso é traçado a cada minuto, mesmo que o vento encapele a onda, uma hora será a direção, há muito escolhida e ainda não vivida... Waiting for the winds of change/To sweep the clouds away/Waiting for the rainbows end/To cast its gold your way/Countless ways/You pass the days/Waiting for someone to call/And turn your world around/Looking for an answer to/The question you have found/Looking for/An open door....

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

The future is so bright...


Nothing can survive in a vacuum/No one can exists all alone

Final de tarde. Carro na estrada e um dos refrões mais contundente dos últimos meses: "How does it feel/To be without a home". E mais uma vez lembro de palavras ditas. A proximidade da música quando se está estrada afora. O que existia lá dentro? O que existe aqui dentro? Essa é a pergunta. Lá dentro tinha um casaco que um dia lhe foi dada a função de capa de chuva. Mas bastou uma chuvinha de verão em Santa Monica para seu posto ir, literalmente, água abaixo... Boas recordações: Adam um dia depois de um show, me levou nas costa e o casaco que me lembrava uma capa de um Lp com músicas do Leonard Cohen, estava lá...

Every day we're standing in a time capsule/
Racing down a river from the past/Every day we're standing in a wind tunnel/Facing down the future coming fast

Como testemunha existia ainda, recortes de 4 rapazes de uma cidade portuária, longe, bem longe de tudo que acontecia de quente no mundo rock, e mesmo assim, eles não desistiram e fronteiras foram lançadas, cada vez mais distantes... Não, não era apenas isso que existia... Depois um comentário vindo de um rio não menos distante, percebi que não interessava o que estava perdido por lá. Interessava sim, o que não estava perdido por cá. Eu sou a testemunha. Eu sou o que guardo, e isso não interessa mais. Não preciso provar que vivi. Eu sei que vivi e isso basta.

It's just the age/It's just a stage/We disengage/We turn the page.

Neil: Young, Peart, Halstead, Sedaka e Armstrong. Estão todos aqui e isso nenhuma estrada pode roubar! I turn the page, I disengage...Face down the future coming fast...

terça-feira, 2 de dezembro de 2008