domingo, 1 de fevereiro de 2009

Homem em chamas ou como dizer adeus

Tenha em mente que não é necessário você alcançar seu caminho, nesse exato momento. Comece devagar, vá aumentando o volume gradativamente, nos próximos dias, diz o Daily. O que, no momento, faz todo o sentido. Num momento onde o sentido pode ser qualquer um ou nenhum. Apenas um momento, onde todas as peças do quebra-cabeça foram atiradas para cima.

As peças foram atiradas e tiradas também. Atiradas por mim e tiradas por muitos, muitos desconhecidos. E tantas outras se perderam por puro e simples descuido.

Enquanto ele tira todos os cds das caixas, eu as coloco de volta. Eu já vi esse filme. Numa cena de “Chamas da Vingança”, o personagem do Denzel Washington compra um cd no meio da rua, um cd da Linda Ronstadt. Nesse momento lembrei de Jairo. Ele gostava dela. Depois de Everaldo, era o único que eu conhecia, que gostava dela. Jairo foi embora e não me despedi dele. Estranhamente, também nesse filme, toca uma música chamada “Clair de Lune” de Debussy, que faz parte da trilha de um outro filme chamado Frankie & Johnny, onde eu e Jairo compartilhávamos do gosto pela película.

Sabe o que é estranho? Ontem, na Música Urbana, Ronaldo me contou a história desse filme. Nem por um segundo achei que tinha assistido. A memória é esquisita. Só lembrei que tinha visto o filme, na cena onde o Denzel explode o traseiro de um tira corrupto, quase no final. Nesse exato momento eu lembrei que tinha assistido o filme, e que tinha sido na época em que estava deixando João Pessoa rumo à Oz – leia-se Osasco, apelido ‘carinhoso’ dos moradores. Ainda é muito clara a imagem do Cris indo me pegar na República, à noite, num carro com uns amigos.

Helder me disse que o caos é necessário. Claro que é! Hoje eu tenho certeza de que colocarei tudo nos seus lugares e começarei a desorganizar outros. E assim sigo, guardando memórias de pessoas, lugares e músicas. E cá estou, limpando algumas caixinhas e guardando alguns cds que sobraram da jornada. A música me alimentou, literalmente.

Enquanto Fá faz a mala e coloca nela tudo que acha que irá precisar, eu desfiz as minhas e descobri que não preciso de mais nada – minto, preciso de uma calça jeans.

Eu fiz tudo o que quis fazer e faria de novo, se pudesse voltar no tempo. Hoje eu conheço muito mais a cabeça dura que sou, sei exatamente que precisava viver tudo que vivi. Se assim não fosse, não estaria aqui, agora, sentindo falta de um amigo que vai partir em breve, para uma cinza e linda selva de concreto, onde tudo pode acontecer, e eu não quero me despedir dele.