O que existe de comum entre o alto sertão paraibano e o deserto do Arizona? O calor insuportável, o sol a pino quase o ano inteiro, a inexistência de água.
Ao contrário da politicagem dos açudes, usada por candidatos a cada eleição em nosso território, as terras do Estado do Arizona nem para fim eleitoreiro são lembradas.
Não há oásis em Tucson. A única forma que John Convertino e Joey Burns encontraram de aliviar o deserto foi formar uma banda. O encontro deles nem foi no Arizona; aconteceu em Los Angeles (Califórnia) por volta de 1996.
Calexico, CA : All American Canal looking east from Calexico. Picture by Joe Bellavia, 2005.
Calexico, CA : Cars go into Mexicali on lane which runs behind yellow sign at the right. Cars on the left are returning from Mexico. Foot traffic passes thru a small building about 100 yards off the picture, to the left. I tried to photograph it but the border patrol made me delete it. Picture by Howard Barnes, 2005.
Claro que eles não fazem tudo. A cada álbum vários amigos são convidados para contribuir com sonoridades diversas. Toda ajuda é bem-vinda, especialmente quando o terreno é árido e ainda mais difícil quando se sai da rota mais percorrida.
A música do Calexico é basicamente composta das influências fronteiriças. A começar pelo nome escolhido: Calexico é uma cidade que fica na fronteira do Arizona com a Califórnia e tem o caminho do El Diablo ao noroeste, conhecido por sua paisagem fantasmagórica. A temperatura da matadora trilha do El Diablo chega a 120ºF, o equivalente a quase 49º C. Não existe amenidade, até hoje é preciso ter um bom preparo para fazer todo o caminho. Assim sendo, a dupla não pode ignorar tamanha influência climática e regional.
Dizem que o Calexico criou um novo estilo no rock, composto de temas instrumentais complexos com sugestões sonoras à música mexicana.
Dizem também que as referências mais óbvias do Calexico remetem as trilhas sonoras do Ennio Morricone, mas não é só isso. Como diz o Joey Burns: "Isso é apenas uma ponta do iceberg".
Calexico não é no México, mas um dia foi. Não foi por ter deixado de ser México que as pessoas que ali moravam esqueceram ou apagaram a cultura do lugar. É uma cidade da baixa Califórnia, mostrada em fotos do encarte do cd "The Black Light" de 1998. Sim, o Calexico já tem mais de dez anos. O primeiro álbum chama-se "Spoke" e foi lançado em 1997.
"No Arizona não é necessário usar drogas. O espírito da psicodelia está no ar, no sol e no céu. Para mim, beber tequila e um bom vinho mexicano é o bastante" constata Joey Burns.
Outra fronteira, um pouco mais longínqua, é a do Canadá. Dessa feita a fronteira é apenas uma referência para a música de um folkrockguy que cruzou os limites sonoros e territoriais: Neil Young, canadense que foi para a Califórnia com a Buffalo Springfield, é uma das influências menos comentada na música calexicana.
Graças a Randall Poster e Jim Dunbar, o Calexico foi parar na trilha sonora de um dos filmes mais badalados do ano pasado no meio musical: "Eu não estou lá" (I'm not there) do Todd Haynes sobre a multifacetada vida do compositor Bob Dylan. Desnecessário dizer que Dylan também entra na lista das influências da dupla.
O Calexico junto com o vocalista do My Morning Jacket, Jim James, deram versões modernas as músicas de Dylan, sem abandonar a essência folk de cada uma. Aliás, diga-se de passagem, que, o Calexico está mais para os irmãos Coen do que para spaghetti western. O filme de Haynes foi onde a dupla arizonesca chegou mais perto do mainstream.
Uma curiosidade: John Convertino e Joey Burns são amigos de Chris Cacavas. Mas quem diablos é Chris Cacavas?! Cacavas foi quem os ensinou a tomarem bons goles de tequila ao sol, há muito tempo atrás...
Confira a música do Calexico:
Myspace - http://www.myspace.com/casadecalexico
Site - http://www.casadecalexico.com
Texto publicado no fanzine Barulhoscópio - Natal (RN).
2 comentários:
gosto dos posts "informativo-musicais".
Mesmo que não sejam informativos padrão? Eu nem falo quem toca o que com quem! :)
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