terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Os Intrusos por Braulio Tavares

A Sincronicidade, a ciência das coincidências significativas, implica na idéia de um campo semântico inconsciente, que nos empurra (sem que a gente perceba) na direção de informações que vibram em uníssono com o momento mental que estamos vivendo. Pode ser um estado de espírito passageiro, que dura algumas horas ou dias, e pode ser uma sintonia com áreas mais profundas, com o momento histórico que atravessamos.
Caiu-me sob os olhos, numa antologia, um conto que eu já lera mais em português, e cujo título em inglês ("The Interlopers" – "Os Intrusos, ou Os Intrometidos, ou Os Que Interferem") não reconheci. O conto é de "Saki", pseudônimo de H. H. Munro, um mestre britânico da história curta que morreu na I Guerra Mundial. O conto se abre narrando a rixa secular entre duas famílias nos Montes Cárpatos. Por causa uma imprecisão na demarcação da fronteira entre as propriedades, as duas famílias vivem se agredindo e se matando há gerações.
Certa noite tempestuosa, Ulrich Von Gradwitz percorre o bosque à procura de intrusos quando se defronta com seu inimigo histórico, Georg Znaeym. Mal os dois erguem as armas um contra o outro, um raio se abate sobre uma árvore próxima, que cai sobre os dois, machucando-os. Ulrich e Georg sobrevivem, feridos, presos sob os galhos, impossibilitados de se mover. Enquanto a tempestade prossegue, os dois começam por se amaldiçoar mutuamente, cada um deles dizendo que quando for encontrado cuidará para que o outro seja fuzilado. As horas passam. A tempestade cessa. Ulrich consegue tirar do bolso um frasco de vinho, do qual toma alguns goles que o reanimam. Oferece-o a Georg. O outro aceita.
Daí a pouco os dois estão conversando, tirando a limpo suas dúvidas, suas rivalidades, a longa história de ódio entre as duas famílias. E um deles faz a proposta: por que não acabar com tanta violência inútil? E se, quando forem salvos, chamarem suas famílias, explicarem o quanto aquela guerra é insensata? Ulrich e Georg se entusiasmam com essa possibilidade; e começam a gritar para atrair a atenção das pessoas que àquela altura certamente estarão, de um lado e do outro, à procura dos dois. Ouvem um rumor distante, e, à luz da lua, percebem vultos que correm na sua direção, cada vez mais próximos, atraídos pelos gritos. Georg pergunta: "São os meus homens? São os seus?" E Ulrich, com uma risada de desespero: "Não. São lobos".
O que tem isto a ver com Sincronicidade? Tem o fato de que este conto me retornou durante estes dias em que as nações do mundo se debatem em desespero, tentando tapar rombos de trilhões de dólares que elas mesmas fizeram, nas suas concorrências e guerras insensatas. Vivem hoje um desastre que elas mesmas plantaram: a crise ambiental, a falência da produção de alimentos, e estão vendo a aproximação dos Lobos da Barbárie. Tomara que eu esteja errado, e que um dia, cofiando uma longa barba branca, possa murmurar: "Como eu era pessimista em 2008!"

Texto de Braulio Tavares, publicado no Jornal da Paraiba, 30/12/2008. Visite Mundo Fantasmo

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Uma música, um delírio...

Zach na beira-mar em algum lugar do planeta... Inspirado?

Em Elephant Gun - Zach Condon tem umas respirações estranhas, não consigo respirar igual a ele ao cantar :)
Não sei se você reparou nisso... Ele não tem uma respiração "padrão" quando canta :) Mas isso não importa! É apenas uma curiosidade, ele é muito bom :)

Esqueci de dizer que lembra muito, bandas dos anos 80 - tipo Dexy's Midnight Runners (acho que você não gosta), Band of the Holy Joy, The Men They Couldn't Hang, Hothouse Flowers, etc. Beirut é mais low-fi se for comparar com todas essas que citei... Se bem que, a idéia inicial, apenas com o Zach sozinho, era bem low-fi mesmo. Ele gravou o primeiro álbum todo em casa :)

Huuuummm não conheço nada disso hehehe. Sabe porque escutei essa música? Porque tocou naquela minisérie da globo, Capitu, e é o tema do Bentinho e a Capitu. Achei uma droga a série e só assisti aquele capítulo :) mas a música ficou na minha cabeça.

Essa música fala da juventude em geral, é linda, bucólica e estranha ao mesmo tempo.
Eu reparei na respiração dele, apenas a inicial, que ele suspira... tava vendo a letra e é algo bem diferente do que tinha entendido, não é?

Sim, ele inspira no início da música. O lance é quando ele canta: As did I, we drink to die, we drink tonight - acho estranho porque se você for cantar, sentirá que não há necessidade de respirar nesse momento, antes de dizer "we", entende? Cantando normalmente não precisa uma tomada de ar nesse instante, acho estranho, parece até que ele tá querendo complicar, well... Ele repete isso mais na frente quando diz: it's not aorund.

Para mim, a letra, tem a ver com uma batalha - a música tem ritmo de marcha - algo marcial - não no início logo. Elephant gun é um espécie de rifle - nos versos: Far from home, elephant gun/Let's take them down one by one - isso é bem claro, longe de casa, ele abate o inimigo - e também em: take the big king down. O Zach é americano, mas desde os 16 anos caiu na estrada e passou muito tempo viajando pela Europa. Daí essa sonoridade meio spanish, escocesa, irish, british em sua música.

Agora me ocorreu uma imagem meio bizarra, tipo filme do David Lynch - um cara com um rifle de ar, atirando naqueles bonecos, em barracas de circo ou parques de diversões :) e essa música tocando... Independente disso, a sonoridade é bela, muito bem construída, melodia e ritmo. Harmonia fantástica e simples :)

Você já ouviu Calexico? Eles fazem uma linha semelhante, só que são bem anteriores ao Beirut e menos mainstream.

Parou, parou :)

Beijos, vou dormir - assim não escreverei mais :)

Uau, poderia colocar nossa conversa em um blog, daria um belo post...

Vou conhecer Calexico! :)

Bjoss

Posso?

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

The Future is so Bright Dois

Desci do carro. Atravessei a pista. Em direção ao terminal, a sensação de vazio. Se cada pessoa da qual me despedi, durante a existência, levou um pedaço de mim, resta-me muito pouco... Ou talvez não reste mais nada... Nada que valha a pena ser arrancado, nada que não tenha sido vivido, nada que não esteja dilacerado, nada que irá transmutar... My goal is more than a thought/I'll be there/When I teach what I've been taught... Tudo está conectado... Posso desligar ou conectar o que desejo... Será? Nada é tão controlável assim... Eu sei que... Não gaste seu tempo. Não gaste tempo. E mais uma vez lembro de palavras cantadas... Sweet memories/Flashing very quickly by/Reminding me/And giving me a reason why
Esse é o tempo - pés na areia quente e o sol rachando o juízo. Cada caminho, na cabeça, está. Isso é traçado a cada minuto, mesmo que o vento encapele a onda, uma hora será a direção, há muito escolhida e ainda não vivida... Waiting for the winds of change/To sweep the clouds away/Waiting for the rainbows end/To cast its gold your way/Countless ways/You pass the days/Waiting for someone to call/And turn your world around/Looking for an answer to/The question you have found/Looking for/An open door....

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

The future is so bright...


Nothing can survive in a vacuum/No one can exists all alone

Final de tarde. Carro na estrada e um dos refrões mais contundente dos últimos meses: "How does it feel/To be without a home". E mais uma vez lembro de palavras ditas. A proximidade da música quando se está estrada afora. O que existia lá dentro? O que existe aqui dentro? Essa é a pergunta. Lá dentro tinha um casaco que um dia lhe foi dada a função de capa de chuva. Mas bastou uma chuvinha de verão em Santa Monica para seu posto ir, literalmente, água abaixo... Boas recordações: Adam um dia depois de um show, me levou nas costa e o casaco que me lembrava uma capa de um Lp com músicas do Leonard Cohen, estava lá...

Every day we're standing in a time capsule/
Racing down a river from the past/Every day we're standing in a wind tunnel/Facing down the future coming fast

Como testemunha existia ainda, recortes de 4 rapazes de uma cidade portuária, longe, bem longe de tudo que acontecia de quente no mundo rock, e mesmo assim, eles não desistiram e fronteiras foram lançadas, cada vez mais distantes... Não, não era apenas isso que existia... Depois um comentário vindo de um rio não menos distante, percebi que não interessava o que estava perdido por lá. Interessava sim, o que não estava perdido por cá. Eu sou a testemunha. Eu sou o que guardo, e isso não interessa mais. Não preciso provar que vivi. Eu sei que vivi e isso basta.

It's just the age/It's just a stage/We disengage/We turn the page.

Neil: Young, Peart, Halstead, Sedaka e Armstrong. Estão todos aqui e isso nenhuma estrada pode roubar! I turn the page, I disengage...Face down the future coming fast...

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

sábado, 29 de novembro de 2008

Cena de um filme esquecido...


- Ele está perdido? Com licença, olá?
- Posso oferecer uma carona até a sua casa?
- Por que? Sabe onde moro?
- Acho que sim
- Ótimo, porque é só você que sabe...
-De que parte da Inglaterra você é?
-Surrey
-Cary Grant era de Surrey
-Isso mesmo, ele era de lá!
-Como sabe disso?
-Ele me disse...
-Dava um bom encontro fabricado...
-Como?
-É como dois personagens se conhecem num filme - um homem e uma mulher, os dois precisam de algo para dormir e vão ao mesmo departamento de pijama masculino. O homem diz ao vendedor: "Só preciso da parte de baixo". A mulher diz: "Só preciso da parte de cima". Eles olham um para o o utro. Isso é um encontro fabricado.
-Entendi.
-É claro que com a gente não foi fabricado, mas...
-Você trabalha com cinema?
-Trabalhava. Eu era roteirista...

Essa é a melhor parte desse filme, que não lembro mais o nome... alguém lembra???
Ele é um ator de uns 70 anos, mas não conhecido - quer dizer, não por mim. Ela é, uma dessas atrizes galegas, famosa por alguma comédia romântica... A cena é em Los Angeles. As ruas lembram a parte residencial de Hollywood...

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

FREEDOM FREIHEIT LIBERDADE LIBERTAD LIBERTÀ LIBERTÉ

Tim Robbins em Sonho de Liberdade

- The best thing in life?

- Autonomia. A liberdade de ir e vir, intelectual ou física. That's the best thing!

- Apenas isso? Simples assim?

- Não, não é simples. Foi num filme horrível, que vi dia desses, de um diretor muito promissor no início dos anos 90, mas que degringolou completamente depois, ao render-se à Hollywood.

- Todo diretor hollywoodiano não vale nada? É isso que está dizendo?

- Não, não é isso. Estou falando especificamente desse cara, que é americano, por sinal... Mas ao se deparar com toda a parafernália hi-tech, despencou ladeira abaixo... Infelizmente... O primeiro filme dele é simples, direto, eficiente, criativo, refreshing, you know... Bah, mas depois foi só decepção... Ele tinha algo do Alex Cox nos anos 80, entende?

- Não...

- Bem, voltando ao filme, o único momento interessante estava no final! Imagine, tive que assistir toda a película para encontrar algo legal. O que fez me lembrar de um professor da universidade que dizia: "É preciso assistir tudo que é filme. Porque naquele que detestas, encontrarás algo que valha a pena". Em parte ele tinha razão... Tinha alunos que assistiam filmes do Arnold Schwarzenegger escondido do resto da turma. Era engraçado.

O tal diálogo do filme era o seguinte:

Carolina
: What do you want in life?
El Mariachi: To be free...
Carolina: Simple.
El Mariachi: No.

- Só isso?

- Sim, porque quarta-feira irei assistir dois amigos tocando juntos. Foi um dos shows que mais quis ver em 2006, mas não tinha automia para isso. Você não tem idéia de como é devastador constatar tal impotência. Não importa o lugar, o que importa é andar com as próprias pernas, essa é a melhor coisa da vida! SIM, isso é o que importa! Entende?

- Não...

domingo, 16 de novembro de 2008

Califórnia, México e Calexico





















O que existe de comum entre o alto sertão paraibano e o deserto do Arizona? O calor insuportável, o sol a pino quase o ano inteiro, a inexistência de água.


Ao contrário da politicagem dos açudes, usada por candidatos a cada eleição em nosso território, as terras do Estado do Arizona nem para fim eleitoreiro são lembradas.

Não há oásis em Tucson. A única forma que John Convertino e Joey Burns encontraram de aliviar o deserto foi formar uma banda. O encontro deles nem foi no Arizona; aconteceu em Los Angeles (Califórnia) por volta de 1996.

Calexico, CA : All American Canal looking east from Calexico. Picture by Joe Bellavia, 2005.

Calexico, CA : Cars go into Mexicali on lane which runs behind yellow sign at the right. Cars on the left are returning from Mexico. Foot traffic passes thru a small building about 100 yards off the picture, to the left. I tried to photograph it but the border patrol made me delete it. Picture by Howard Barnes, 2005.

Claro que eles não fazem tudo. A cada álbum vários amigos são convidados para contribuir com sonoridades diversas. Toda ajuda é bem-vinda, especialmente quando o terreno é árido e ainda mais difícil quando se sai da rota mais percorrida.
A música do Calexico é basicamente composta das influências fronteiriças. A começar pelo nome escolhido: Calexico é uma cidade que fica na fronteira do Arizona com a Califórnia e tem o caminho do El Diablo ao noroeste, conhecido por sua paisagem fantasmagórica. A temperatura da matadora trilha do El Diablo chega a 120ºF, o equivalente a quase 49º C. Não existe amenidade, até hoje é preciso ter um bom preparo para fazer todo o caminho. Assim sendo, a dupla não pode ignorar tamanha influência climática e regional.

Dizem que o Calexico criou um novo estilo no rock, composto de temas instrumentais complexos com sugestões sonoras à música mexicana.

Dizem também que as referências mais óbvias do Calexico remetem as trilhas sonoras do Ennio Morricone, mas não é só isso. Como diz o Joey Burns: "Isso é apenas uma ponta do iceberg".

Calexico não é no México, mas um dia foi. Não foi por ter deixado de ser México que as pessoas que ali moravam esqueceram ou apagaram a cultura do lugar. É uma cidade da baixa Califórnia, mostrada em fotos do encarte do cd "The Black Light" de 1998. Sim, o Calexico já tem mais de dez anos. O primeiro álbum chama-se "Spoke" e foi lançado em 1997.

"No Arizona não é necessário usar drogas. O espírito da psicodelia está no ar, no sol e no céu. Para mim, beber tequila e um bom vinho mexicano é o bastante" constata Joey Burns.

Outra fronteira, um pouco mais longínqua, é a do Canadá. Dessa feita a fronteira é apenas uma referência para a música de um folkrockguy que cruzou os limites sonoros e territoriais: Neil Young, canadense que foi para a Califórnia com a Buffalo Springfield, é uma das influências menos comentada na música calexicana.

Graças a Randall Poster e Jim Dunbar, o Calexico foi parar na trilha sonora de um dos filmes mais badalados do ano pasado no meio musical: "Eu não estou lá" (I'm not there) do Todd Haynes sobre a multifacetada vida do compositor Bob Dylan. Desnecessário dizer que Dylan também entra na lista das influências da dupla.

O Calexico junto com o vocalista do My Morning Jacket, Jim James, deram versões modernas as músicas de Dylan, sem abandonar a essência folk de cada uma. Aliás, diga-se de passagem, que, o Calexico está mais para os irmãos Coen do que para spaghetti western. O filme de Haynes foi onde a dupla arizonesca chegou mais perto do mainstream.

Uma curiosidade: John Convertino e Joey Burns são amigos de Chris Cacavas. Mas quem diablos é Chris Cacavas?! Cacavas foi quem os ensinou a tomarem bons goles de tequila ao sol, há muito tempo atrás...

Confira a música do Calexico:
Myspace - http://www.myspace.com/casadecalexico
Site - http://www.casadecalexico.com

Texto publicado no fanzine Barulhoscópio - Natal (RN).

sábado, 15 de novembro de 2008

Stranglers na beira-mar














Os Stranglers foram à praia tomar água de côco. Não estavam com roupas apropriadas para banho, mas aproveitaram para colocar os pés na areia quente de começo de tarde. Será que depois disso eles ainda vão tocar? Você sabe, os ingleses não estão acostumados com o sol escaldante do Nordeste brasileiro. Aliás, os ingleses nem tem o prazer de ter raios de sol por quase o ano inteiro. Estão tão isolados do mundo que, uma chance como essa, é praticamente imperdível. Água de côco... Uma brisa deliciosa vinda de um mar de águas verdes...


Não lembro ao certo como fui parar na beira-mar com um disco(Lp/vinil) dos Stranglers nas mãos. Lembro que não podia deixá-lo dentro do carro, seria o fim... O disco não tocaria mais... Foi por conta desse episódio que escrevi, por volta de 2004, essa meia dúzia de linhas...

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Phoenix sem rio

- Claro, foi mentira!

- Como você sabe?

- Na verdade, eu não sei. Mas prefiro crer que foi.

- Você prefere uma mentira?

- Não, mas prefiro acreditar que foi uma.

- Uma mentira que me fez rever um universo... Paralelo...

Nos famigerados anos 80 - é interessante como todo mundo lembra e quer ouvir sem parar os sucessos, que ninguém aguentava mais ouvir, nos anos 80! - eu ouvia uma música de uma banda vinda de uma cidade chamada Cork (pronuncia-se Corcaigh) na Irlanda. O tal Lp do Microdisney foi lançado aqui no Brasil, na época.

- Mas quem conhecia Microdisney?

- Poucas pessoas... Hoje a Last FM diz: "quem gosta de Microdisney, gosta de Woodentops", ha!
Bullshit!

- Afinal, que música é?

- "Genius". "Eu sou deus". É assim que começa, o final da música. Eu explico... A música acaba, mas tem uma "espécie de coda". Algo que o Sir. McCartney costuma fazer em suas canções. É assim que me sinto hoje.

- Por que?

- Porque eu ressuscitei uns fragmentos. Das cinzas. As cinzas da informática, do famoso Ctrl+C / Ctrl+V. Não é genial? Genius!

E ao procurar a letra de "Genius", achei isso:
My ex-wife hated Microdisney. "I can't stand the singer's voice" she said, "he sounds like a big, gross, sweaty oaf. Please don't play them when I am home!" Long story short, the marriage didn't work out." by Jeff Whiteaker

- Ah, você deveria ir à Cork! Eu recomendo... É uma bela cidade. E "Genius" é uma bela canção, eu tinha esquecido disso...

domingo, 19 de outubro de 2008

Música da Semana

















Pure Smokey é o Lado B de "True Love"


Pure Smokey

Uma das mais belas homenagens em forma de canção para alguém ainda vivo.
A música Pure Smokey foi escrita para Smokey Robinson (William "Smokey" Robinson Jr.) por George Harrison (preciso colocar ex-Beatles?) e lançada no álbum Thirty-three 1/3 de 1976.
A admiração de Harrison pelos artistas da Motown era algo incontestável. Tanto que ele foi acusado de plágio e a música em questão era "He's so fine", de um artista da Motown - não do Smokey Robinson - e sim de Ronald Mack, gravada pelas The Chiffons em 1962.
Uma curiosidade: "He's so fine" foi um grande hit nos Estados Unidos, ficou no top das paradas da Billboard por 5 semanas, até que... Perdeu o lugar para "From me to you" dos Beatles! Irônico, não? Mais de uma década depois, ninguém imaginou que Harrison seria acusado de plágio, exatamente, com essa música!
Curiosidade dois: 331/3 foi o primeiro a ser lançado pelo selo Dark Horse, do próprio Harrison, que seria distribuído pela A&M (na época distribuído aqui no Brasil pela Polygram, hoje Universal) que, quando soube do "subconcious plagiarism" (termo supostamente aplicado na época para o tipo de plágio) tirou o time de campo, e processou-o no montante de 10 milhões de dólares!
Curiosidade três: Antes de lançar 331/3 Harrison teve hepatite.
Curiosidade quatro: No 331/3 a música "This song" é uma resposta sarcástica ao processo do plágio subconciente.
Curiosidade cinco: só fui ouvir "He's so fine" quando foi lançado por aqui no final dos anos 70 na trilha sonora do Quadrophenia do The Who.
Comecei falando sobre "Pure Smokey" e você ficou com vontade de ouvir "He's so fine" e "My sweet lord", não é? Problema seu! :)

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

"Situação de Dança" II



























As Três Dançarinas, Picasso, 1925


- "Você nunca se apaixonou?

- "Não, são muitas escolhas!"

"As minhas juntas não movem separados/de um plano inicial pré determinado/se eu tentar pode ficar evidente/eu danço como eu nado sincronizado/e mesmo versado no controle da mente/mover um corpo exige muito mais cuidado/posso tentar mas não vai ser diferente/eu danço como eu ando em campo minado/e o que fazer em situação de dança?o que fazer?"


- "Se você não dança, não transa. Sem ritmo, sem amor."


"Fácil se fosse só pra traz ou pra frente/mas não assim indiscriminadamente/se dois pra lá eu sempre pro lado errado/eu danço como eu corro é contra a corrente/e mesmo versado no controle da mente/mover um corpo exige bem mais cuidado/eu posso tentar mesmo que beire o indecente/eu, eu danço como quem foi contaminado."

Fragmentos vindos de:

Born romantic - David Kane
Situação de dança - Tom Bloch
Ao som de Inspiracion - Calexico

domingo, 27 de julho de 2008

A Califórnia cai, o México chama...

- Eu sei que você pode me tocar, mas você pode me ver?

- Como irei tocá-lo sem vê-lo?!

-Uma coisa não depende da outra, será que você não percebe?

- Tudo que falei um dia para você de nada valeu, né? Por que você deixa o pragmatismo lhe dominar?

- Aaaaah! Pare de fazer perguntas!

- O que você quer de mim?

- O que você quer?

- Eu quero o México e a Califórnia... O deserto deles...

- Eles estão aqui dentro!

The cracks between the paving stones/Look like rivers of flowing veins./Strange people who know me/Peeping from behind every window pane./The girl I used to love/Lives in this yellow house./Yesterday she passed me by/She doesn't want to know me now. The Real Me

- Quatro pessoas numa só. E mais uma vez eu lhe pergunto: você pode me ver?

Eu sinto que gosto de correr, mas não gosto da corrida/Prefiro ficar em total silencio/Num mundo levado pelo vento/Num mundo de estranhos" Quattro

- Pode você ver o meu eu verdadeiro? Você pode?

- É tão simples, mas eu não posso fazer com que você veja! O que posso fazer é esperar, e enquanto espero esqueço que digo isso para você, por que não posso carregar comigo, serei tomado de surpresa uma dia... Um longínquo dia, portanto, resta-me apenas esquecer...

- A fúria do Roger ao cantar é uma terapia e tanto, uma catarse quase.

Can you see the real me, can you? Can you?

- Posso lhe mostrar a Golden Gate? Muita gente já pulou de lá...

- Como você sabe disso?

- Eu tenho fascínio por pontes!

quinta-feira, 26 de junho de 2008

"E o que fazer em situação de dança?"

Foto de Paulo Madeira

"Take the story of carpenter mike/Dropped his tools and his keys and
left/And headed out as far as he could/Past the cities and gated
neighborhoods/He slept 'neath the stars/Wrote down what he dreamt/And he built a machine/For no one to see/Then took flight, first light"


Sunken Waltz - Calexico


Pegue a história de Mike, o carpinteiro que abandonou tudo para dormir debaixo das estrelas... Sim, é uma valsa!

- Você sabe dançar valsa? Você sabe dançar?

- Valsa é vida. Sem música não se vive!

- Se você não sabe dançar valsa, você não está vivo!

- Foi assim que o The Band se despediu: dançando a última valsa com todos os amigos tocando num mesmo palco. Isso é uma vida que se leva... Na valsa! Tem um ditado popular que diz que "levar a vida na valsa" é não se preocupar. E tem coisa melhor do que não se preocupar com nada?

- E do que adianta se preocupar. A valsa não pára, nem a vida, nem o tempo param por sua preocupação... qual o sentido então?

- Valsar, dançar, rodopiar!

- O que é sunken?

- É até onde o sol pode chegar. Até onde você tem alcance de visão. É o seu círculo visual, entende?

- Nada! Preciso?

- Dance a valsa! É preciso...

- Se servir de consolo, posso lhe dizer que a vida é uma constante mudança, tomando de empréstimo dos orientais...

- E isso não é consolo... nada controlamos...

- Aceitas um sushi?

- Aceitas dançar comigo? Mas vou lhe avisando: Eu não sei dançar valsa!


"Your experience will teach me no/more lessons.From lower down you just seemed so
much better/All in all I'd say things have turned out good, you still don't smile at me but
then I never thought you would/You don't waste time on praise, when you could.Or just tell me something. anything. good.


"All in All (This One Last Wild Waltz) - Dexys Midnight Runners


- Eu lhe ensino... Venha!


"Fácil se fosse só pra traz ou pra frente/mas não assim indiscriminadamente/se dois pra lá eu sempre pro lado errado/eu danço como eu corro é contra a corrente/e mesmo versado no controle da mente/mover um corpo exige bem mais cuidado/eu posso tentar mesmo que beire o indecente/eu, eu danço como quem foi contaminado"

quinta-feira, 29 de maio de 2008

"Ou eu rasgo a tua foto..."


Plano atual:
Dr. Squires diz que, na vida, temos que provocar uma bagunça tremenda, para depois gastarmos alguns anos arrumando o caos que fizemos...

Outro plano:
Tom Waits em uma das suas inúmeras pontas, numa película do Coppola, diz: "Time is a funny thing. Time is a very peculiar item. You see when you're young, you're a kid, you got time, you got nothing but time. Throw away a couple of years, a couple of years there... it doesn't matter. You know. The older you get you say, 'Jesus, how much I got? I got thirty-five summers left.' Think about it. Thirty-five summers."

Volto ao plano anterior...

- Uma coisa você nunca poderá dizer de sua vida...
- O que?
- Que é monótona!
- É verdade. E por achar um tanto quanto devagar, às vezes, um caos bem armado, ajuda ainda mais na dinâmica, não acha?
- Um caos bem-(vin)vivido!

Outro plano, dessa feita virtual:
Renato me diz que:
A letra é sobre uma garota que sofre escondida por tentar ter uma vida perfeita, e quem narra tenta dizer para ela que nada é perfeito...
- Não tem nada a ver comigo...
- Por que você está dizendo isso?
- Por que a vida é perfeita! "Nothing more too say or do/La di da/La di da, yeah!" como diz Doug Edmunds - Drummer and co-lead vocalist do Gladhands... Ótima banda, ótimo show!

domingo, 25 de maio de 2008

Happy Birthday Bob Pai!

- Eu estou convencido de uma coisa: Ou você realmente não liga para nada ou tremendamente espera que as pessoas pensem isso.

- Olha, eu sei mais sobre você do que você jamais saberá sobre mim!

- Você se recusa a se importar profundamente com qualquer coisa... É inteiramente egocêntrico em tudo que faz.

- O que exatamente é o que eu deveria sentir?

- Estou simplesmente me referindo a emoções simples: dor, remorso, amor...

- É... Eu não tenho nenhum desses sentimentos...

quinta-feira, 22 de maio de 2008

A Lad Insane Alladin Sane All Lads Sane

"This is ground control to Major Tom/You´ve really made the grade/And the papers want to know whose shirts you wear/Now it´s time to leave the capsule if you dare"
Abro os olhos, olho para meus pés, estou descalço. Começo a caminhar. Não conheço o lugar. Aos poucos observo que aquele terreno é estranho. Olho ao redor e está tudo deserto, parece ser noite... Parece? Nesse momento noto que estou de pijamas!

"This is Major Tom to ground control/I´m stepping through the door/And I´m floating in a most peculiar way/And the stars look very different today"

É uma praia? Não, não... é um pequeno lago, mas a água não se move, não tem vento. Continuo a caminhar e grandes pedras vermelhas surgem, são parecidas com a coloração do chão. Ponho minhas mãos no solo. Areia, sim é areia, mas é seca e muito grossa. Nenhum tipo de vegetação à vista.

"For here/Am I sitting in a tin can/Far above the world/Planet earth is blue/And theres nothing I can do"

Que lugar é esse? Como vim parar aqui? Penso... Levanto-me e de imediato olho para cima. Para minha surpresa não vejo estrelas, nem a lua. Apenas a Terra reina acima da minha cabeça!

"Ashes to ashes, funk to funky/We know Major Tom is a junkie/Strung out in heavens high/Hitting an all-time low"

quarta-feira, 21 de maio de 2008

O Homem com uma Câmera Invisível



Uma palestra ou uma peça de teatro? Eu escolhi aquela sobre a qual sabia menos - não sabia o horário, nem o nome, nem como chegar ao lugar onde iria acontecer. Que tipo de pessoa escolhe sempre o incerto na vida? Robert Frost explicou em versos. E precisava mesmo explicar? Resolvi não definir meu traçado antes de sair de casa, mas sabia que à palestra do Bráulio não iria. A história em forma de cordel em minha cama estava e nela permaneceu...


O estrago ou efeito de uma crônica de Marte era tão vasto? Tão vasto ao ponto de escolher algo vivo, algo mutável para compor a cena seguinte? A resposta é óbvia, mas o óbvio não é óbvio até que veja visto e mencionado. O óbvio não é óbvio até que seja vivido. A minha estrada começou a ser definida quando, após subir as escadas da Brigadeiro, pisei na Paulista. Antes de vislumbrá-la ouvi meu nome ainda dentro da estação - pronunciado por alguém que durante quase dois meses tive o prazer de lhe dizer 'bom dia':

"Você tem poucos medos". Sim, eu tenho poucos medos e assusto pessoas. Assusto até aquelas que fazem parte de um universo paralelo...

"Teatro é ação". Sim, a paulista. A Paulista estava um caos:

"Hey, por favor, para onde foi a parada de ônibus que costumava ser aqui?"

E ele respondeu: "mais na frente, bem mais na frente".

Melhor seria ter descido no Paraíso... O inferno não seria visto. E como não poderia deixar de ser, passo em frente ao futuro do presente do Bráulio Tavares. O futuro do presente "é usado para indicar uma ação que irá acontecer com certeza"... E quando temos essa certeza? Tempo estranho... Muito estranho... Escolha estranha... Personagem do Hugh Grant em Quatro Casamentos e Um Funeral parado no meio de uma estrada... Frost mais uma vez, fuck!

Ao me deparar com o futuro do presente pensei: a partir daqui começo a desenhar o meu caminho. Ele começava a ser definido a partir de um tempo inusitado e que não tem nenhum sentido.


- "Por favor, Sacomã passa por aqui?"

- "Sim, já passaram três. Ops, não, acho que foram apenas dois..."

- Esse ônibus passa na Unesp?

- Você pegou o ônibus errado! É o 478 P - 10. Perdida no Paraíso. Sem nome, sem hora e sem destino.


- "Por que você não admite logo que não sabe de porra nenhuma?!".
Eu já tinha visto esse filme. Melhor que isso: eu estava nesse filme, semana passada, quando consegui perder o horário de duas peças numa mesma noite! Durante o trajeto nada curto até o teatro, imaginava, para matar o tempo, como o final seria. O final para o meu futuro:

1. Não iria ver peça alguma. Não encontraria o lugar.

2. O Teatro estaria vazio e todos já teriam seguido seus caminhos.

3. Desceria do ônibus e voltaria para o futuro... do presente.

4. Não consigo pensar em nada mais... O amigo do Hugh Grant que falava por sinais disse o mesmo...


Por que alguém escolhe algo que não conhece?

- Ah, lembrei! Tinha um piano! Sim, um cego que tocava piano! É, mais uma vez, a música. A música me moveu:


"You move me, you move me
With your buildings and your eyes
Autumn woods and winter skies
You move me, you move me
Open sea and city lights
Busy streets and dizzy heights
You call me, you call me."


Na verdade, não foi nessa música que pensei... Na verdade, ninguém me ligou, mas e daí? Eu fui pelo o que estava a fim de fazer e não pelo que esperavam que eu fizesse; não podemos controlar tudo e observar isso foi deveras engraçado... Imperfeito do conjuntivo... No teatro da vida existe um texto, porém o improviso predomina, de longe!

- Está cansada? Ele perguntou.

- Sim, eu vim correndo, mas eu sei que não adiantou nada. A peça acabou, né?

- Não, não! Respire, relaxe. Vire à direita, na porta de vidro. Não tem como errar...


Era um cenário preto. Com giz, os personagens traçavam sua história. Desenhavam a história. A vida imita a vida. A arte imita a arte... Assim seguimos. Eu fiz uma escolha. O diretor também. Em algum ponto num espaço-tempo não definido nos encontramos. Sabíamos?

- Nãão! Não sabemos de nada! Somos todos iludidos!
- Sabemos da ilusão?


A morte sabe - homem, mulher, Bergman, Allen, xadrez, cartas, esqueleto, sapato vermelho, caixas... "eu volto!". Ela sempre volta. E nunca sabemos quando isso acontecerá.


Acordei num lugar estranho. Os versos do Jeff nunca fizeram tanto sentido:


"Well, this is my story for the dislocated
You're gonna love, but you're doomed to be hated
Because the lies of the spirit possessed her!
Because the eyes of your lover resist you
Listen up, you keep your aim steady
As your temple turns to kiss the pistol
Fate is gonna find your love
In a glass of champagne"

quinta-feira, 15 de maio de 2008

O homem que estava lá

Foto de Denis Olivier


Era chegada a hora. O Sr. Convertino terminou de vestir o casaco. A compra de um só cômodo foi feita logo após a ida de Lena Zender para Kupper - deserto onde existia resquícios de uma civilização longínqua.

- Sr. Convertino! Sr. Convertino!

Era o seu sistema de alerta. Era a hora.

Pela primeira vez iria olhar de novo no espelho. Era assim que via Lena. Era hora de confrontar não apenas o seu ser, mas aquele pelo qual tinha deixado uma vida promissora. Ela era a autora de todos os seus desejos cinematográficos. Coisa do passado. Passado dele... Not really...

Aquela música o atormentava, dia após dia:

"Cut my heart/Drowned my fear/Torn that page/I just know I´m gone"

Foi o que ouviu no dia que deixou o sistema. Desde então o perseguia, sempre... Ao dormir, nos sonhos, pela manhã até dormir novamente.

De repente sentiu que a sua voz ficou diferente. Não conseguia cantar mais aquela música, sua voz tinha rachado.

- Alerta vermelho! Alerta vermelho! "No singing in the acid rain"

O sistema alertava sobre uma pane... A sua hora tinha sido adiada...

"Kill the inner loser/Is it over I can't tell/I crave for amusement/Don't take me out/Ain't time to crack this shell"

O Sr. Convertino não realizou seu confronto. Deitou novamente... Foi para o mundo dos sonhos e nunca mais voltou.

"So please/Sympathize with my pain/And realize you can set me free/You and everybody taught me to fit/Into something that was never mine/So sympathize with my pain"

Ninguém ou nada pode sobreviver no vácuo. Vire a página e não olhe para trás.

sábado, 10 de maio de 2008

Rufus, Jim e a Grande Abóbora



"Everything it seems I likes a little bit stronger/A little bit thicker, a little bit harmful for me"


- A conta, por favor.

- Pensei que você ia querer conversar mais...

- Tem isqueiro?

- Você sabe que não!

- Talvez aquele cara ali tenha...

- Talvez...


- Você tem um isqueiro?

- Ah não, mas tenho fósforos...


Ele era magro. Muito magro. Ele era alto. Muito alto. Cabelos pelos ombros que desconheciam escova ou pente. Colocou a mão no bolso do paletó e a estendeu com vários palitos, em seguida colocou a mão no outro bolso do paletó e me entregou uma caixa vazia.

Peguei um palito e depois a caixa. Acendi o cigarro. Agradeci. Antes de voltar para a mesa, não resisti e perguntei:


- Você é virginiano?

- Sim! Como você sabe?!

- Nada! Apenas um palpite...


Vá em frente e me acuse de falar sobre algo que parece com você, com ele, comigo - I´m the walrus - goo goo g´joob!
A citação descarada de Kate em Movies of Myself. Você veio e eu não lhe vi... Você ouve as mesmas coisas que ouvia quatro anos atrás!

- E daí? Eu gosto do óbvio! Quer algo mais óbvio do que esses versos que você escreveu:

A love that is longer then a day/Start making my heart say something it doesn't want to say/I'm handing it over, I'm singing that you're the only one/Don't run for the border, turn that corner/In movies on myself/Oh I've seen it all before in movies of myself

- Mesmo? É muito? Você acha de verdade? Mais do que:

You´re too old to lose it, too young to choose it´/And the clocks waits so patiently on your song/You walk past a cafe but you don´t eat when you´ve lived too long

- Um cara que diziam parecer com você escreveu algo semelhante:

Where are you tonight, child you know how much I need it/Too young to hold on and too old to just break free and run

- Não, eu quero você... eeer...hum... Não, eu quero dizer... cigarro e chocolate... Não, eu quero cigarro e café, é isso!

sábado, 3 de maio de 2008

As Várias Faces de Dylan


Todd Haynes nasceu em 1961 na cidade de Encino, Califórnia. Ouviu a música de Bob Dylan pela primeira vez ainda adolescente. A idéia de fazer um filme sobre o polêmico e multifacetado compositor o perseguiu desde o século passado. Através do filho mais velho do Dylan, Jesse, Todd conseguiu conversar por telefone com o empresário Jeff Rosen. Jeff por sua vez, logo alertou Todd de não usar no roteiro expressões como: “a voz de uma geração” ou “gênio do nosso tempo”. Alguns meses depois um telefonema de Jeff informava que Dylan tinha concordado em liberar os direitos, mas com uma condição: além do filme, o roteiro deveria ser também uma peça teatral.

E assim nasceu ‘Não Estou Lá’ (I´m Not There, EUA, 2007) com Cate Blanchett, Christian Bale, Marcus Carl Franklin, Ben Whishaw, Richard Gere e Heath Ledger, todos interpretaram o mesmo personagem: Bob Dylan. O filme estreou nessa sexta-feira em Recife, mas permanece inédito nas telas da nossa cidade.

A história de Bob Dylan com a música começou depois que ele ouviu Drifting to Far from Shore: “o som do disco fez com que eu me sentisse outra pessoa... Parecia que nem mesmo nasci com os pais certos, ou algo assim.”. Trecho do filme No Direction Home de Martin Scorsese. A música cantada pelo criador do estilo bluegrass, Bill Monroe acionou o processo de se reinventar do, ainda então, Robert Zimmerman.

Na tela o diretor desfragmentou o enigmático Dylan em seis personagens: A atriz australiana Cate Blanchett fez Jude Quinn, o “cantor de protesto” que se revoltou contra esse rótulo e passou a cantar sobre o cotidiano. O público, por sua vez, passou a considerá-lo traidor pelo uso de instrumentos elétricos em sua música; Ben Whishaw, que fez o papel de Keith Richards no filme Stoned (ver destaque), encarnou Arthur Rimbaud, o Dylan poeta e leitor voraz de livros; Christian Bale interpretou Jack Rollins, personagem visto apenas através de fotos e filmes, registros de um compositor que deixou para trás sua carreira no auge do sucesso para se tornar o religioso Dylan, criador de Knockin´on Heavens Door e mais tarde a trilogia Slow Train Coming, Saved e Shot of Love; Heath Ledger fez Robbie Clark “o novo James Dean, Marlon Brando e Jack Kerouac em uma só pessoa”.

No filme, Robbie Clark interpretou Jack Rollins no cinema, uma citação ao desconhecido Renaldo e Clara, (ver destaque); Richard Gere fez o Dylan fora-da-lei que atuou e concebeu a trilha sonora para o filme de Sam Peckinpah, Pat Garret e Billy the Kid (1973), uma referência a fuga da vida pública e Marcus Carl Franklin como Woody Guthrie que representou toda a jornada de Dylan na absorção da musicalidade e personalidade do cantor folk Woody Guthrie.
Os seis Dylans se misturam aleatoriamente durante todo o filme, tornando-o difícil para quem não conhece, pelo menos, 70% da vida do compositor, principalmente, porque Todd Haynes usou um formato não convencional para um filme biográfico.

O diretor também fugiu da obviedade na escolha das músicas da trilha sonora de Não Estou Lá. A começar pela canção que dá título ao filme I´m Not There de 1956, gravada durante as sessões do Basement Tapes e disponibilizada apenas em bootlegs; como também nas versões escolhidas para as músicas de Dylan feitas pelos grupos Calexico e Antony & The Johnsons.

Durante a confusa turnê inglesa Bob Dylan diz: “Vou ser um novo Bob Dylan na semana que vem. Arranje-me um novo Bob Dylan e use-o. Use o novo Bob Dylan e veja o quanto dura”. Não sabemos ao certo quais dos dylans, entre tantos, mas tem durado até hoje; tornando assim, a versão cinematográfica de Todd Haynes na visão mais próxima de quem seja, realmente, Bob Dylan.

Dylan dirigiu filme obscuro em 1978

Renaldo e Clara (Renaldo and Clara – 1978). Dirigido, escrito e estrelado por Bob Dylan. O filme, considerado pela crítica como “surreal, obscuro e pretensioso”, é formado por três partes: a turnê Rolling Thunder Revue, o documentário sobre Ruben “Hurricane” Carter e a parte ficcional onde Bob Dylan fez o Renaldo e Sara (sua mulher na época) fez o papel de Clara. Inicialmente o filme tinha 292 minutos de duração. Logo após o lançamento Dylan permitiu uma edição, onde manteve mais o material da turnê, de aproximadamente duas horas. Curiosidades sobre o filme: Uma parte foi lançada para o público como bônus na The Bootleg Series Vol.05 – Bob Dylan Live 1975; é o primeiro filme de Sam Shepard que dividiu o roteiro com Dylan; no elenco, além de Dylan e Sara, tem Joan Baez, Joni Mitchel, Allen Ginsberg, Arlo Guthrie (filho do Woody Guthrie), Harry Dean Staton e Roberta Flack. O filme estreou no Brasil no final dos anos 70, mas nunca foi lançado posteriormente em nenhum formato.

Publicada no Jornal da Paraíba, Segundo Caderno, 13 de abril de 2008.

OITO FILMES QUE VOCÊ PRECISA VER

Essa Terra é Minha Terra (Bound for Glory -1976). Direção de Hal Ashby.
A vida do compositor folk Woody Guthrie interpretado por David Carradine. O filme trata do período que Guthrie saiu país afora cantando suas músicas de cunho social para os oprimidos e vítimas da depressão americana. Vencedor de dois Oscars: fotografia e adaptação musical.







Johnny & June (Walk the Line - 2005). Direção de James Mangold. Filme sobre a vida do compositor Johnny Cash. “Johnny Cash era como uma figura religiosa para mim. Conhecê-lo foi a maior emoção da minha vida. E só o fato de ter cantado uma das minhas músicas foi inimaginável”, palavras do Bob Dylan no “No Direction Home”.







La Bamba (La Bamba – 1987). Direção de Luis Valdez. História da curta trajetória musical de Richie Valens que se tornou famoso ainda adolescente e morreu em acidente aéreo junto com Buddy Holly e J.P. Richardson. A trilha do filme é executada pelos Los Lobos. O filme tem também as participações do guitarrista Marshall Crenshaw (esteve no Brasil junto com o MC5) no papel de Buddy Holly e Brian Setzer (ex-Stray Cats) como Eddie Cochran.





The Doors (The Doors - 1991). Direção Oliver Stone. O filme mostra desde o surgimento da banda americana The Doors nas areias da praia de Venice até a morte de Jim Morrison num hotel em Paris aos 27 anos. Durante as filmagens o ator Val Kilmer se recusou a sair do personagem, talvez por saber que seria seu único papel relevante no cinema e aproveitou ao máximo. Há boatos que precisou de tratamento psiquiátrico para se desvincular de Jim Morrison. Estranhamente nunca saiu em DVD no Brasil. Com participações de Billy Idol, John Densmore e Eric Burdon.




A Rosa (The Rose – 1979). Direção de Mark Rydell. Bette Midler em seu primeiro papel no cinema interpreta a cantora Mary Rose Foster inspirada na vida/carreira de Janis Joplin. No elenco a presença de Harry Dean Staton (que aparece no Renaldo e Clara do Bob Dylan), Frederic Forrest e Alan Bates. O mesmo diretor dirigiu em 1991 outro filme com a Bette Middler, chamado Para Eles, Com Muito Amor (For the Boys) onde ela canta uma versão emocionada de In My Life.




A Fera do Rock (Great Balls on Fire – 1989). Direção de Jim McBride. A ascensão e temporária queda do rocker Jerry Lee Lewis nos anos 50 interpretado por Dennis Quaid. Participação de John Doe, ex-baixista da banda X, de Los Angeles, Califórnia, que canta Pressing On na trilha sonora de Não Estou Lá.







Os Cinco Rapazes de Liverpool (Backbeat – 1993). Direção de Iain Softley. Filme que narra a história do artista plástico e péssimo baixista Stuart Sutcliffe da banda embrionária do que veria a ser os Beatles. Ótima atuação de Ian Hart como John Lennon. Trilha sonora executada pelo David Grohl do Foo Fighters na bateria, Mike Mills do R.E.M. no baixo, Thurston Moore do Sonic Youth na guitarra e Greg Dulli do Afghan Whigs e Dave Pirner do Soul Asylum nos vocais.





Stoned – A História Secreta dos Rolling Stones (Stoned – 2005). Direção de Stephen Woolley. Primeiro filme do produtor inglês que conta a vida de Brian Jones, membro fundador da banda Rolling Stones que morreu em circunstâncias mal explicadas. O filme de Woolley retoma a teoria de assassinato.