segunda-feira, 14 de junho de 2010
domingo, 14 de fevereiro de 2010
Que venham todos!
Bring’em all in – Mike Scott. Lançado em 1995 pela Chrysalis(EMI). Produzido pelo Mike Scott & Niko Bolas(que trabalhou com Warren Zevon/John Doe/Neil Young/George Thorogood/Jonathan Richman/Bob Mould/Jackson Browne)
O nome Mike Scott confunde-se com outro nome: Waterboys. Mike Scott em 1995 gravou seu primeiro álbum solo. Um álbum conceitual. No caso, o tema abordado foi a experiência, vivida pelo Mike Scott, física e espiritual em uma espécie de rito de passagem, semelhante ao transcrito a seguir:
Remembering when first I held The wheel in my own hands I took the helm so eagerly And sailed for distant lands But now the sea's too heavy And I just...I just don't understand Why must my crew desert me? When I need...I need a guiding hand...(1)
Ainda lembro de quando pela primeira vez
Tive o controle de meu próprio destino
E pude então, ir para qualquer lugar
Mas agora sinto não puder sustentar o rumo sozinho
E simplesmente não entendo porque, justo agora, meus amigos se foram
Quando eu preciso, preciso de ajuda(2)
O rito descrito é o da passagem para a idade adulta, onde, teoricamente não se depende de mais ninguém. Dois fatos foram determinantes para a busca particular de Mike Scott: o tempo de reclusão às margens do Findhorn Bay (lugar onde meditava e depois gravou todas as faixas do álbum. O lugar é citado na primeira estrofe de Long Way to the Light e fica na Escócia), e a viagem para a costa Leste do continente americano, onde masterizou as músicas. Bring ‘Em All In abre com a faixa que deu nome ao álbum. É um desafio, lançado pelo Mike para si mesmo. O desafio era trazer à tona tudo que precisava ser reconhecido e tratado, não só dentro, como também, fora de seu universo. Scott desafiou a si mesmo dizendo: “pode mandar todos/mande todos/todos que estão escondidos/todos os perdidos/trancados/adormecidos/ Eu estou pronto para enfrentá-los”. Foi assim que declarou a sua própria guerra. Ele sabia disso. Só não sabia que a devastação seria avassaladora. Muito do que foi devastado jamais seria recuperado:
I tried to rebuild my life/But the life I knew was gone/I had to let it go everything/But that’s another song!
Tentei reconstruir minha vida/Mas a vida que conhecia não mais existia/Tive que deixar tudo para trás/Exceto a minha música!
Cair na estrada não é para qualquer um:
You can surrender without a prayer/ But never really pray/ Pray without surrender(3)
Você pode se render
Sem rezar
Mas nunca irá rezar
Sem realmente se render
E seguindo o espírito desses versos, ainda em futuro incerto e não sabido, Mike tratou de fazer sua própria prece, por saber que a ela iria recorrer, diversas vezes:
What do You want me to do? (O que você quer que eu faça?) (4)
Tenho sido orgulhoso e cego/Tenho muito que mudar/Reconstruir todo o meu ego/Se você me mostrar como fazer/Começarei de imediato/O que você quer que eu faça, Senhor?
Cair na estrada é um disfarce e tanto – Wonderful Disguise. Não ser reconhecido em terras estrangeiras foi de grande valia na longa e tortuosa estrada. Tudo tinha sido desconstruído, porém, Mike sabia onde se encontrava a sua origem, o seu ponto de partida, só não sabia como chegar lá novamente:
I can see the lights of home/But I can’t get there on my own/I can see the landing strip/ But I need you to steer my ship(5)
Caminhar, por uma estrada nunca antes explorada, é a capacidade de dispensar tudo que se torna supérfluo ao longo da trajetória. É uma descoberta feita a cada passo porque não se tem como carregar todos os pertences. Até o que lhe parecia tão importante, passa a ser visto de outra forma. A partir desse momento os valores são transformados, e o que não tem serventia fica pelo caminho:
Living one step at the time/Putting one foot in front of the other/It sure feels right/Healing on my mind/Been a long way to the light.
Vivendo um dia por vez/Caminhando com precisão/E me livrando das péssimas lembranças/A cura está em mim/É um longo caminho para se chegar a luz
Construir o seu lar em outra ilha (Manhattan) foi o que Mike fez para não se sentir tão longe de casa, e fez o que ele sabia (sabe): plugar a guitarra e tocar! Depois de passar o outono inteiro em trânsito, sem chegar a lugar nenhum, a resposta veio:
I spent the fall in transit/circling the moon like a cat on the hot tin roof/Like a fiddle without a tune/I found what I was searching for in Mrs. Caddy’s book/I have to go there straighaway/Have myself a look(6)
Ele encontrou o que procurava num livro de Mrs. Caddy (7)
Ainda em “Long Way to the Light” o verso well, if you want to give God a laugh – tell him your plans! (Bem, se você quer ouvir uma boa risada de Deus, diga a ele quais são os seus planos!). Na estrada, planos inexistem. O Sr. Scott, aqui, faz pouco de sua própria inocência ao tentar planejar sua busca/aventura. Voou de volta para a Escócia, imaginando como o velho país iria lhe receber – como um filho pródigo? Ao chegar, Mike Scott se ajoelhou e beijou o asfalto. Sentiu, então, seu sangue celta das montanhas escocesas, ferver em suas veias mais uma vez. E encerrou seu primeiro álbum solo dizendo que tudo pode mudar num piscar de olhos.
Atualmente, Mike Scott faz shows tocando versões musicadas de poemas do Yeats, se esconde em algum lugar na Irlanda, e nunca mais pisou em outras ilhas que não fossem do Reino Unido.
NOTAS:
(1) Tradução literal dos versos:
Lembro de quando tive pela primeira vez/o comando do barco em minhas mãos/De imediato coloquei o elmo/E naveguei por terras distantes/Acontece que agora o mar está revolto/E eu não entendo/Porque minha tripulação me abandonou
(2) Versos da Parte III – No one at the Bridge de Fountain of Lamneth. Escritos pelo Neil Peart.
(3) Resist (Neil Peart - 1996). Canção que Geddy Lee relacionou a Escócia em versão ao vivo. Uma canção folk, disse ele.
(4)Música regravada pelo, também escocês,Rod Stewart.
(5) Posso ver as luzes de minha terra/Mas não posso chegar lá sozinho/Eu posso ver um novo horizonte/Mas eu preciso de ajuda para manter a direção do meu barco
(6) Passei o outono rodando/Sem rumo/Como um gato em teto de zinco quente/Como um violino desafinado/Eu encontrei o que procurava num livro da Senhora Caddy/Tenho que ver com meus próprios olhos. Uma referência ao poema The Cat and The Moon de W.B.Yeats (1865-1939)
(7)Provavelmente aqui Mike Scott se refere a Florence Caddy, escritora inglesa, autora de 7 livros, incluindo Footsteps of Jeanne d’Arc – a Pilgrimage de 1876 – Os caminhos de Joana d’Arc – Uma Peregrinação.
domingo, 19 de julho de 2009
A Fonte de Lemneth
quinta-feira, 16 de julho de 2009
Selvagem é o vento
Foto da capa do album Wind & Wuthering do Genesis.
sábado, 11 de julho de 2009
A message for me from Neil Peart
Zoe, we have a mission. Sabia disso antes mesmo de ser dito, mesmo assim foi dito.Todos os dias eu escrevo um livro. É o que diz o Sr.Costello. Não venha me dizer que eu não sei o que é amar... Desculpa, Mr. Costello... Sua frase foi mudada, confesso...Foi preciso. Será que me perdoas? Ou será que apenas cantas What’s so funny bout peace love & understanding e nada sentes? Como irei saber...
A mente não pára de repetir "you have enter in twilight zone..." onde tudo é possível, tudo o que você tem a fazer é sentir.
You have entered the twilight zone
Deja vu?
If I had ever been here before I would probably know just what to do
- O que dizer sobre algo que já se viveu?
- Viveu? Quando?
- E eu vou saber? Você acha que eu tenho todas as repostas. Não, dear one, eu não tenho, nem quero ter...
And I feel
Eu não queria, mas a carrego por 13 anos. Mr.Taupin disse que era sobre a guerra civil americana e muitos foram os dedos apontando equívocos históricos. E se ele falasse de um legado, puro e simples, ainda haveria erro? Não creio. It's so easy, believe me. Tudo é mais simples do que imaginamos. Um dia, após outro, após mais um.
From this day on I own my father's gun
Vejo uma vida organizada e deixada em cada canto, de voz, de parede, de dor e de alegria. Estamos tão perto. So far, so close... quero uma única visão de Santa Monica. Quero cantar na chuva. Será que todos têm desejos a realizar antes do dia final aqui?
- Você sabe dançar?
- Aprendi tango pra um personagem.
- Ele foi expulso do banker?
- Não, deixou de aparecer...
O tango era uma dança permitida apenas entre homens. Tudo muda. Poor Edward... Ele tem uma voz rouca, toca piano e tem uma aparência assustadora... É inglês?
- Ele bebe muito...
- Ah! Por que não disse antes?!
The key, the end, the answer
Em poucos quilômetros a paisagem muda radicalmente. Seeds. Um milagre irá acontecer aqui, mas quem acredita? Um portão. Seeds. É a passagem. Unlock the door e seja bem-vindo ao mundo dos que apreciam o mais belo viver!
As soon as this is over we'll go homeTo plant the seeds of justice in our bonesTo watch the children growing and see the women sewingThere'll be laughter when the bells of freedom ring
- Deja-vu!
- De novo?
- E agora? Am I a cinderella man?
- Cinderella man? O que significa isso?
- É só uma música...
- Ah, eu lembro. Fala de um cara que é louco, né?
- (Risos) Louco?!
- Sim, ele é louco! Delusions of grandeur/Visions of splendor/A manic depressive/He walks in the rain
- É assim que você me vê?
-Você que falou em Cinderella man...
- Ele pode ser "louco", é verdade... Doing what you can/ They can't understand/What it means/Hang on to your plans/Try as they mightThey cannot steal your dreams. Não vou deixar ninguém tirar nada de mim. Pode me chamar do que quiser. Eu acredito. Você, não?
- Eu não sei... Você me assusta...
- Por quê? Por que falo o que sinto?
E a chuva veio...
- Trovão?!
- Não, é um avião. A rota para Fortaleza passa aqui por cima.
- Não estou vendo... Ah, ali!
- Sou fascinada por avião!
- Eu também!
Fly by night, away from here
- Como você descobriu?
- (Caramba, e agora? O que vou responder?) Huuum, não faz pergunta difícil...
- Quero saber...
- Bem, gaita sempre me remete à deserto, poeira, western... Parecia trilha sonora de filme... essa combinação ajudou a eliminar 80%... (será que convenci? Ufa!)
- Impressionante...
- (Nem sei dizer como aconteceu... mas não foi nada lógico... de repente a música estava na minha frente!)
- Quando tiver outras pedirei sua ajuda
- (Podia ter dito: tomarei isso como um elogio - mas calei de tristeza e não por calar)
Start a new chapter
sábado, 4 de julho de 2009
A Escócia, Moz e você
- Que lugar é esse? Está escuro aqui...
- This place belongs to the king! Esse lugar pertence ao rei... E você não deveria estar aqui... (disse uma voz impostada cujo rosto era impossível enxergar).
- Que rei é esse?
- How dare you?! Como se atreve a perguntar de que rei falo?!
- Pergunto porque não sei de que rei estás a falar! Onde estou?
- Tudo aqui pertence ao rei. A povo não tem permissão de entrar para bisbilhotar os pertences do rei.
Ao sair olhei para cima. Lá estava: uma construção enorme, dois ou três andares, antiga, com algumas plantas trepadeiras espalhando-se pelas janelas. Algumas abertas, outras fechadas. E um céu muito azul acima.
O lugar foi transformado em uma universidade e fica situado no centro de Edimburgo. Não, não eram as ruas percorridas por diversos em bicicletas numa cidadezinha inglesa... Porém a desolação era a mesma. Aquele lugar trazia impregnado sentimento seculum seculorem... Um isolamento sem precedentes se abateu ali... Longe de tudo e de todos...
Não duvide. Converso com você, mesmo sem você saber. Afinal, você não lembra mesmo de seus sonhos. Então, isso me dá a liberdade de entrar neles a hora que quiser. Não necessito de seu consentimento para começar uma conversa sobre qualquer que seja o assunto. Afinal, my dear one, você não lembra mesmo de seus sonhos, não é?
Que país um dia você disse querer visitar?
Saiba que, lá já estivestes... Não é engraçado? E nem lembras dos belos castelos e praças enormes que percorrestes um dia. Nem tão pouco lembras de teus sonhos... Nem lembras de mim...
Para ti, que és o cego que um dia pode ver/os sinos dobram por ti.
domingo, 1 de fevereiro de 2009
Homem em chamas ou como dizer adeus
As peças foram atiradas e tiradas também. Atiradas por mim e tiradas por muitos, muitos desconhecidos. E tantas outras se perderam por puro e simples descuido.
Enquanto ele tira todos os cds das caixas, eu as coloco de volta. Eu já vi esse filme. Numa cena de “Chamas da Vingança”, o personagem do Denzel Washington compra um cd no meio da rua, um cd da Linda Ronstadt. Nesse momento lembrei de Jairo. Ele gostava dela. Depois de Everaldo, era o único que eu conhecia, que gostava dela. Jairo foi embora e não me despedi dele. Estranhamente, também nesse filme, toca uma música chamada “Clair de Lune” de Debussy, que faz parte da trilha de um outro filme chamado Frankie & Johnny, onde eu e Jairo compartilhávamos do gosto pela película.
Sabe o que é estranho? Ontem, na Música Urbana, Ronaldo me contou a história desse filme. Nem por um segundo achei que tinha assistido. A memória é esquisita. Só lembrei que tinha visto o filme, na cena onde o Denzel explode o traseiro de um tira corrupto, quase no final. Nesse exato momento eu lembrei que tinha assistido o filme, e que tinha sido na época em que estava deixando João Pessoa rumo à Oz – leia-se Osasco, apelido ‘carinhoso’ dos moradores. Ainda é muito clara a imagem do Cris indo me pegar na República, à noite, num carro com uns amigos.
Helder me disse que o caos é necessário. Claro que é! Hoje eu tenho certeza de que colocarei tudo nos seus lugares e começarei a desorganizar outros. E assim sigo, guardando memórias de pessoas, lugares e músicas. E cá estou, limpando algumas caixinhas e guardando alguns cds que sobraram da jornada. A música me alimentou, literalmente.
Enquanto Fá faz a mala e coloca nela tudo que acha que irá precisar, eu desfiz as minhas e descobri que não preciso de mais nada – minto, preciso de uma calça jeans.
Eu fiz tudo o que quis fazer e faria de novo, se pudesse voltar no tempo. Hoje eu conheço muito mais a cabeça dura que sou, sei exatamente que precisava viver tudo que vivi. Se assim não fosse, não estaria aqui, agora, sentindo falta de um amigo que vai partir em breve, para uma cinza e linda selva de concreto, onde tudo pode acontecer, e eu não quero me despedir dele.